quinta-feira, 18 de junho de 2009

Grafite é arte ou vandalismo?




Reconhecimento do grafite como arte pode mudar processo cultural de séculos

A discussão sobre os termos pichação e grafite tem causado polêmica na sociedade contemporânea. As duas palavras, que teoricamente possuem a mesma origem, caracterizam diferentes atos, muitas vezes confundidos pela população, o que contribui para uma guerra urbana em que a arte acaba transformando-se em vandalismo.

Interessante é ressaltar que existe uma grande diferença entre grafite e pichação, sendo o primeiro considerado uma arte, e a pichação, um crime, passível de prisão e multa.

Da origem desses “gêmeos”, arqueólogos contam que as sociedades humanas os conhecem há muito tempo. Eles já eram praticados na antiguidade, na forma de desenhos em cavernas, e foram, inclusive, muito úteis para registros históricos. O modelo moderno da pichação e do grafite pode ter nascido em Nova York, onde gangues marcavam territórios e formavam grandiosas cidades pintadas.

Com a reforma contracultural, que ocorreu por volta de 1968, em que diversos muros de Paris foram cobaias para a anexação de mensagens poéticas-políticas, o grafite acabou generalizando-se e criando uma ligação com movimentos como o hip-hop.

Dentre as características do grafite, destaca-se a utilização de várias cores, que ao contrário das pichações monocromáticas, trabalha texturas com um dinamismo singular. A cor não é a única diferença dos dois segmentos. A pichação busca amedrontar e, até certo ponto, intimidar o passante que a vê. Já o grafite, atualmente muito elaborado, trabalha uma linguagem intencional, que alegre, que dê outro semblante e que chame a atenção de uma maneira bem menos ríspida.

Como pichar é um aspecto da rua, os pichadores têm na transgressão o motivo de força maior para não migrarem para o grafite, que em algumas vezes é utilizado pela polícia e também pela sociedade para transformar o depredador em artista. Mesmo com a predisposição da sociedade, não como um todo, em apoiar o artista da rua, existem ainda aqueles que de maneira alguma querem deixar de lado a criminalidade de seus atos.

Diferenças entre grafite e pichação

GRAFITE
Possui inúmeras formas.
Trabalha com muitas cores.
Pode ser feito de forma legal.
Não há competição.

PICHAÇÃO
É munida de atitude, no sentido de protestar contra algo.
Trabalha geralmente com a cor preta.
Procura lugares inusitados e difíceis de pintar.
É utilizado para competir e demarcar territórios.


Mesmo bonito, grafite não agrada a todos


Apesar de ainda possuir características da pichação, o grafite ocupa cada vez mais seu espaço como arte. Paralelamente, a crescente moda esbarra em pessoas que relutam em não simpatizar com a obra. Por mais belos que possam ser os desenhos, sempre terá alguém que não os aceite, e aí, se estabelece uma imensa e polêmica discussão. Quem pode definir o que é arte? Como ganhar dinheiro apenas com o grafite?

Dilma B. R. Juliano é mestra em literatura brasileira e doutora em teoria literária, trabalha como coordenadora dos programas de Gerenciamento de Ensino, Pesquisa e Extensão da Universidade do Sul de Santa Catarina- Unisul. Sua carreira profissional lhe permitiu estar em contato diário com a arte, sob suas várias formas.

UC: Quem pode ser crítico de arte? Existe alguma formação específica?

DJ: Não existe formação específica. Existem graduações acadêmicas que facilitariam o absorvimento de um conhecimento que te leve a ser crítico de arte, mas que não, necessariamente, você o precise ter para ser considerado como tal. Qualquer pessoa, independente de formação acadêmica, pode tornar-se crítico de arte, publicando artigos.

UC: Um blog permite a qualquer um moldar-se como um crítico de arte?

DJ: Sim, a pessoa pode começar postando textos a respeito de determinado conteúdo e, com o passar do tempo, ser respeitada pelo que escreve, tornando-se crítico de arte.

UC: É muito difícil os grafiteiros ganharem a vida apenas pintando na rua. Existem instâncias de valorizações de suas obras, como expor em galerias?

DJ: Em se falando não só do grafite, como de arte num modo geral, expor no eixo Rio-São Paulo faz com que suas obras valorizem bastante. Digamos que todo artista que quer um reconhecimento nacional precisa passar pelo Masp para atingir sua meta.

UC: Quem são os melhores artistas do grafite brasileiro?

DJ: É difícil dizer quem são os melhores artistas, mas diria que gosto bastante dos irmãos Otávio e Gustavo Pandolfo. Ali vejo poesia.

JOÃO LUCAS E LÉO De Floripa para o Brasil com o sertanejo universitário





Dupla conta como tudo começou em entrevista ao Casulo Cultural


O vento soprava forte e frio, caminhava da esquerda para direita, afastando passantes da beira-mar de Florianópolis e intimidava aqueles que ali precisavam estar. De repente estaciona um carro, dentro dele saem três pessoas. Um deles se dispersa com o celular em mãos, os outros dois aconchegam-se na lateral do carro e encolhem-se tentando afastar o frio que fazia. O primeiro usava calça jeans, uma camisa e bem engomada, além de uma jaqueta. O segundo, com vestimenta parecida e face mais jovial, tinha os olhos tapados por um boné que contrastava com o chapéu que segurava em mãos.

Esse chapéu era talvez a parte de um todo que mais definia os dois. O primeiro era João Lucas, e o segundo Léo. Em comum o dom para a música e o sucesso que ambos estão conquistando na Grande Florianópolis.

O programa Unisul Cultural entrevistou a dupla João Lucas e Léo, sucesso entre universitários da Grande Florianópolis.

Dentre os fatores que possibilitaram o crescimento profissional da dupla, que hoje é unanimidade em Floripa, está o apoio dos pais, que sempre acreditaram que os filhos eram possuidores de um talento especial, e que voltariam para casa para contar do sonho que tornaram verdade.

UC: Quando vocês começaram a ter relação com a música?
J L: A música é uma coisa que vem de família. Quando eu comecei, cantava com minha irmã, que na época era muito comum duplas formadas por um homem e uma mulher. Na verdade eu era um tapa buraco. Cantava umas musicas e minha irmã depois tomava conta, meu pai também cantava. Quando fui pro mundo foi sem avisar, de repente saí. Isso no final de 1998. Minha primeira arranhada no violão foi tardia, com cerca 16 anos. sempre tive apoio da família...

L: Eu Venho de família evangélica. Nasci na igreja e aos três anos já gostava do violino, que mais tarde seria meu primeiro instrumento. Com 6 anos comecei a estudar a música. Meu pai é musico e além de tocar violão, me incentivou muito na música. Eu cantava primeira voz e ele segunda. Com 8 anos eu já queria tocar na noite.

UC: Como vocês se conheceram?
Achamos-nos em um churrasco de amigos. Nos encontramos e já cantamos até amanhecer o dia.

UC: A partir de quando começaram o projeto João Lucas e Léo?
JL e L: Nós já tivemos diferentes formações. O nosso primeiro contato foi de certa forma profetizado. Estávamos ambos sem dupla, e a união se deu imediatamente.

UC: Por que escolheram trabalhar no sertanejo universitário?
JL e L: O sertanejo sempre esteve na nossa raiz, seria impossível negar essas raízes e tocar um outro estilo.

UC: Quais as características que diferem o sertanejo universitário do sertanejo dito tradicional?
JL e L: Na verdade o sertanejo antigo baseava-se muito na orquestra. É uma música mais romântica e lenta. O que se difere na verdade é o jeito de tocar iniciado por César Menotti e Fabiano, que trouxeram essa musica mais progressiva. O sertanejo universitário é uma musica mais agitada, mais pra cima e mais pra universitário, possui menos arranjos e mais violões. As duplas antigas não gostam muito desse tipo de música. O Zezé Di Camargo é um exemplo. Segundo ele, esse é o titulo que deram a uma modinha.

UC: O sertanejo universitário veio para ficar ou tem data para morrer?
JL e L: Não acreditamos que o sertanejo universitário vai acabar. É difícil você ouvir algo na rádio que não seja universitário. Além de não acabar, vai revelando cada vez mais pessoas. Não achamos impossível que ele se aniquile, mais acreditamos que isso é bastante difícil. Ele não é uma modinha e veio para ficar.

UC: No início de carreira muitos músicos reclama por não ter onde tocar... É difícil encontrar lugares para shows aqui em Florianópolis?
JL: Todos diziam que sertanejo na ilha não existia. Nós conquistamos vários bares daqui. Eu conheço pessoas que vão a baladas e não sabem o que está rolando. Muitos desses começaram a ir aos nossos shows sem saber do que se tratava e agora vão sempre. É algo inusitado. Tocar em casas que antes só tinha música eletrônica e rock é uma conquista e nós ficamos muito felizes ao viver isso.

UC: E o processo da gravação do CD. Quando vocês começaram a tocar já escreviam algo?
JL e L: A gente sempre compõe e está tentando coisas novas. O nosso CD foi gravado de uma só vez e conta com oito composições nossas e quatro regravações, além da participação do Dodô do grupo Pixote e Tatau, ex-vocalista do Araketu.

UC: Como os fãs têm recebido o CD de vocês?
JL e L: Eles não só cantam nossas músicas como pedem nos shows que fazemos. A gente vai comprar roupa nos shoppings e o pessoal nos aborda para conversar. Eu até estou devendo um convite para um garoto. É muito gostoso sentirmos esse reconhecimento. O mais importante é que a gente percebe algo verdadeiro. Ninguém quer ganhar moral em cima da gente.

UC: Alguma fã já fez algo inusitado em algum show?
JL e L: Às vezes aparece um doido. (risos) Começa a falar igual a uma matraca. A gente sempre procura nos controlar e atender porque na verdade é tudo muito legal. Todos são recebidos com muito carinho por nós. Estamos tocando também em Criciúma, Tubarão, Laguna. No primeiro show que fizemos em Criciúma foram 50 pessoas, no segundo 200, no terceiro 700 e no quarto 3.500. É muito bom constatar essa evolução.

Nos projetos de João Lucas e Léo estão a gravação de um DVD e a divulgação de seu primeiro álbum em todo território nacional. Esse objetivo requer trabalho da dupla, que atualmente faz de sete a 10 shows em cerca de três dias, nos finais de semana.
Apesar de já terem percorrido um longo trajeto em busca do reconhecimento, a dupla sabe que muito ainda está por vir. “Em Florianópolis nos sentimos bem, mas acredito que ficaremos aqui até final do ano. Sempre quando o artista sai de casa, quer conquistar o mundo. Com a gente não é diferente”, conclui João Lucas.

A reportagem completa, com detalhes do sertanejo universitário da Grande Florianópolis, além da entrevista com João Lucas e Léo completa, sairá no final de julho na primeira edição da revista Casulo Cultural, que em parceria com o Unisul Cultural será mais um suporte para quem vivencia a cultura local.